quinta-feira, 28 de julho de 2011

Alguém ficou com um pedaço

Alguém ficou com um pedaço
Um pedaço de mim
Do meu coração
Alguém permitiu que fechasse
Uma porta
Sem abrir outra
Agradeço

E foste tu
Tu permitiste-me que a  fechasse
Com todas as chaves (como alguém me disse)
Agradeço
Agora vou aproveitar
Para descansar
Para ter paz
Vou-me recolher
Em mim

Gostei de te ter vivido
Ainda que de uma forma efémera
Talvez até demasiado efémera
Mas nem tudo o que não é
É tão belo
Tão real, verdadeiro
Quase nada aliás
Talvez um dia, quem sabe
Nos voltemos a cruzar
E os nossos olhos brilhem
Nossas almas convivam
E assim sigamos o nosso rumo
O nosso caminho
Com um brilho que é nosso.
Bem hajas

José Apolónia   27/07/11

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um dia vou ser pó

Um dia vou ser pó
Um  dia
Um dia vou viver de memórias
Quero-as limpas , translúcidas
Brilhantes  não como o sol
Quero-as  radioactivas
Que me dêem vida
Quero-me poeira radioactiva
Na esteira de um cometa
Não de qualquer cometa
Mas daquele que anuncia
Que tem na rota uma colisão
O que anuncia a destruição
De algo
Que na sua anunciação
Traga vida, amor
Na sua plenitude
Traga
Anuncie
Vida
Amor
Em mim
Em ti
Em nós
Em todos nós
Quero-me acima de tudo
Verdadeiro na anunciação

José Apolónia  22/07/11

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A delirar, com febre mesmo


A delirar, com febre mesmo

Que tenho ?
Que me falta ?
Tenho fome de ti
Fome de ti
De te ver
Fome dos teu olhos
Fome de me perder no teu olhar
De me banhar no teu sorriso
De perder minhas mãos
No labirinto que é o teu corpo
De me perder todo em ti
Desaparecer como a lua
Num eclipse
E voltar
Voltar a me encontrar
Em ti.
Que tenho ?
Que me falta ?
Tenho sede muita sede
 De ti
Das tuas palavras entoadas
Da melodia na tua voz
Sede do teu perfume
Tenho sede muita sede
De ti
Sequioso mesmo
Tenho de te sorver
Beber
Mas com cuidado
Mastigando-te, degustando-te
Devagar

Jose Apolonia  18/07/2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

As palavras quando escritas

As palavras quando escritas
Ganham vida
E  tudo o que tem vida
Deve ser livre
Não deve ficar na prisão
De uma página
Tens razão amiga
Tens razão  amigo
Façamos das palavras pássaros
Pássaros livres
Dos ferros de uma gaiola
Que se escapem subtilmente
Com um toque de magia
Que sejam arautos
Que sejam nossas as palavras
De todos nós
Que atravessem continentes
Oceanos
Que nos precedam
A nós
Que as tintamos.

Jose Apolónia  19/07/11

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Deambulei pelas palavras

Deambulei pelas palavras
Na vã esperança de encontrar
Alguma que te retratasse
Te descrevesse na perfeição
Alguma que me tocasse
E me levasse num embalo
Qual folha que cai
Rumo ao teu coração.

Sôfrego, sorvi mil palavras
De uma só vez
E nada.

Mais cansado que as palavras
Que me passam num turbilhão
Tropeço na solidão
Da lua
Que envergonhada se esconde
Na nuvem que passa
E assim escapa em segredo
Da lua
Deusa tua
Nesta noite que se revela crua


Jose Apolonia    18/07/2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Não tens que ter medo

Não tens que ter medo
Tens uma vida
E gostas
Tenho uma vida
E gosto
Algures perto de nenhures
Muito perto mesmo
Ouvi algo parecido
Que partilhei
Com alguém que gosto
Agora partilho contigo
Quero que saibas que gosto
De ti
De mim
Gosto mesmo muito
De nós
Não tens que ter medo
De ti
 da vida
que é rosa
que é negra
que é nós
e nós
somos nós
a vida
que tem várias cores
não tens que ter medo
sê torre
sê colorida
José Apolónia   10/07/11

terça-feira, 12 de julho de 2011

Eu choro.

Eu choro.
Homem que é homem não chora,
aguenta as agruras.
Em si, no coração.
Em si, em solidão.
Tretas digo eu, que choro,
que banho minhas faces
com pétalas translúcidas.
Salgadas.
Tretas digo eu que choro,
que deixo correr,
que te deixo escorrer
como afluentes invernosos
marcando as minhas faces.
Tretas digo eu que choro,
que me esqueço de fechar
com chaves
a memória onde te guardo.
Que pinga, que goteja
lágrimas salgadas de mel
que sorvo.
Tretas digo eu que te choro,
Meu Pai.

José Apolónia 11/07/11

sábado, 9 de julho de 2011

Eu sou o poema

Eu sou o poema

Eu sou o poema
A dor…
Sou as palavras
Que te enleiam
Nas noites frias
Sou as palavras
Que te confortam
Nas noites em claro
Eu sou o poema
A alegria…
Sou as palavras
 Que buscas na incerteza
Quando olhas o rio
Eu sou o poema
Porque sempre choraste
Das palavras
Que arrepia…
Eu sou o poema
Que encontraste

   José Apolonia     09/07/11

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quem Sabe?

Quem Sabe?
Quem sabe o que nos tira a voz
Quem sabe o que nos dá voz
Será o amor?
A revolta?
O desamor?
O sofrimento?
Será algo que não sabemos?
Será um toque?
De um anjo?
Serás tu?
Serei eu?
Será ela?
Quem sabe?
Quem sabe que levante um braço!
Quem sabe que fale!
Que silêncio…
Que o silêncio reine então.
E em silêncio andemos
De mãos nuas
Entrelaçadas
Os olhos que falem
As almas que se entendam
As penas, os lápis
E tudo o mais que escreva
Escreva, registe
As palavras faladas
E as caladas
Também

Jose Apolonia   06/07/11

quarta-feira, 6 de julho de 2011

EU


EU

Eu não sou mais
Eu não sou menos
Que um grão de areia
Na praia
Sou português
Dizem-me alfacinha
De gema
Agora dizem-me lixo
Sou português
Sou o QUÊ ?
Lixo ?
Não me parece
Não me parece mesmo
Que numa época onde
Tudo é reciclável
Nos dessem tanto valor
Ceguinhos
Talvez
Pois só um cego
Não vê
Onde nos leva
Este caminho
Cheio de escolhos
Onde os cintos tendem
A não apertar
Mas a bater
Será que temos que lhes
Fazer a vontade
Pegar nos cintos?
Bater-lhes?
Jose Apolonia  06/07/11

Na procura do silêncio

Na procura do silêncio

Subi o penhasco
Aquele que tem um farol
Que sobreviveu ao tempo
Fisicamente
Mas que já não alumia
Nas  trevas
O mar das palavras ocas
Sem sentido algum
Sem rumo
Onde na  vertigem das alturas
Me precipito
Num mergulho
Até ao sítio mais recôndito
E aí me sento, no silêncio
Que reina
E aí me lembro
Que já vivi muito
Em silêncio
E aí me recordo
Em silêncio
O silêncio que chora
O farol
Que resistiu às intempéries
Que já não alumia.
Jose Apolonia  06/07/11

terça-feira, 5 de julho de 2011

Um dia vou escrever

Um dia vou escrever

Algo
Algo que não sinta
Que ninguém sinta
E
Assim
Não me vou
Não te vou
Te
Não vou
Dizer
Rigoro
Sa
Mente
Nada
Que
Tu
Não
Tenhas
Lido
Em
Nenhures
Um
Dia
Quando
Por
Julgaste
Passar
Sim
Tu
Que
Por
Vives
Sem
Saber.

Jose Apolonia    05/07/11

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ser Árvore.

Ser Árvore.

Quisera eu ser árvore
e de flores estar rodeado.
Quisera eu ser árvore,
viver mais alto,
mais perto das estrelas,
da estrela -
que tenho por minha -
Aquela que dizem não ser, mas que é.
Eu sei que é.
Quisera eu ser árvore
e do alto do meu mundo ver minhas flores,
sentir seus aromas vários,
estonteantes.
Mas só, na minha solidão,
carpindo minhas mágoas,
imaginando-me mais -
mais alto, mais perto.
Quisera eu ser árvore
e deleitar-me, banhar-me,
sorrir-me,
lá no alto do meu mundo
estar, só estar.
Viver cada dia com tudo
não tendo nada.
Não querendo mais do que crescer,
do que ficar mais próximo.

Quisesses tu ser a árvore,
a trepadeira que amarinha,
quisesses tu trepar-me -
e eu deixaria.
Quisesses tu também
ver de mais alto,
de mais perto -
ver-mos o mundo
de outro mundo.

Jose Apolonia   01/07/11