sábado, 27 de agosto de 2011

O MUNDO FECHOU AS PORTAS

O MUNDO FECHOU AS PORTAS

O amor no seu pico
No raiar da paixão
Louco, de inconsistência
Seus olhos incandescentes
Desprendem-se das faces
Tornando-o cego

Esféricas bolas de fogo
Rolam por colinas
Deixando um rasto
Sulcos, sulcos profundos
O cheiro entediante
A terra queimada

Gritos mudos ecoam
Por ouvidos surdos
O amor grita, cego
Grita por amor
O mundo fechou as portas
Mas não as janelas…

Jose Apolonia 27/08/11

QUE DIZER ?


QUE DIZER ?

Que dizer?
Que mais posso dizer?
Tu sabes
Tu sabes
Esses olhos falam
Eu leio nesses olhos
Eu leio-te
E tu sabes
Eu sei
Não estava à espera
Acontece
Queres as letras todas?
Todas mesmo ?
Agora?
Agora não
Até podia ser
Mas não é o momento
Ainda
E tu sabes
Eu sei
Eu
Encontro-me nas palavras
Por vezes perco-me
Nesse sorriso
Que te precede
Que me descobre
A alma

José Apolónia  

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

À noite no Baleal


À noite no Baleal

Está escuro, as poucas luzes
Amarelas, fracas pouco alumiam
Bebo um café na companhia
De um shot e dois amigos
À minha frente um cenário
Idílico, o mar a sua música
Que me envolve e desperta
 Nesta hora tardia
Que me transporta pelas brumas
No ocaso do desejo, sorrio
Deixo-me ir mas não te encontro
Não te vislumbro nesta escuridão
Mas sei que navego em ti
Navego em tuas águas, suave
Suave como a brisa pelo teu corpo
Existo…

Jose Apolonia  22/08/11

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sonho com o dia…


Gosto quando escreves em apelos
Em descrições sentidas
Quando em ânsias de desejos
Deliras em letras que formam palavras
Que deixam adivinhar o desejo
Que te percorre o corpo
Em arrepios de frio 
Gosto de te saber quente a ferver
Quando me imaginas em ti
Perdido
Quando em êxtase tremes
E me repudias desejando mais
E mais e mais e mais

Sonho com o dia 
O dia em que precedes a tua escrita
Em que te precedes
Com o dia em que todos
Todos os relógios param
Na mesma estação
Em que as horas sem tempo
Se fundem em nós

Jose Apolonia 16/08/11

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Meia verdade, meia mentira


Meia verdade, meia mentira

Meia mentira, falta metade
Da mentira
Meia verdade, falta metade
Da verdade
Há um problema, um
Pequeno quê
Todos aguentamos uma mentira
Completa, inteira
Mas…
Uma verdade…completa, inteira?
Quem aguenta? Não encontrei ainda…
Falo, conto pequenos trechos de mim
Do meu sentir, incompletos
Meias verdades
Metades
E sempre cala em mim
Como um barco 
Cala no rio
E penso, dói
Dói ao rio 
O que um barco cala
Em mim…

Jose Apolonia 15/08/11

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

EMOÇÔES...


Emoções...

Depois de tantos anos
Encontrar-te
Ver-te
Sentir-te
Abraçar-te
Primeiro a alegria aquela sensação
Aquele arrepio de saber, ver-te
Vou-te ver
A lágrima ao canto do olho
Que não cai, fica
Mas
Escorre una, como um afluente
De um rio, sempre ali
Mas por dentro escondida
Escondida
De repente brota
Qual cataratas no pico
Das chuvas
E gosto, gosto
Deste sentir
Gosto do rio da chuva das cataratas
De ti, de te ver…

Jose Apolonia  15/08/11

domingo, 14 de agosto de 2011

NAS BERLENGAS

NAS BERLENGAS

Ficava aqui eternamente, não em silêncio
Aqui não há silêncio, consigo ouvir os meus passos
Nos trilhos já muito calcados, consigo ouvir
Por entre o rugir do mar, o grasnar das gaivotas
Aos milhares, consigo ouvir o piar de suas crias
Gostava de te ter comigo aqui, de silenciar
O mar as gaivotas, tapar os olhos às suas crias
 E à noite uivar à lua ou mesmo às estrelas
E te escutar por entre os silêncios, da noite
Que nos unem e separam como marés entrepostas
Gostava de te ter aqui, de parar o tempo
Que as gaivotas e o mar que aqui reinam se silenciassem
Como eu, quando em êxtase me pronuncias, devoras
Que em silêncio tapassem, com suas asas
 Os olhos de suas crias
Gostava de parar o tempo de o rachar.

Jose Apolonia   11/08/11

sábado, 13 de agosto de 2011

COISAS SIMPLES...


Um sorriso estampado
Nos olhos
Nos meus olhos
Sinto-o de cada vez
Que contemplo uma flor
Uma pequena e simples flor
Quando me sento
A ouvir o cântico de um riacho
Ou estupefacto escuto
A história de uma pedra
Ali muito quieta, conta
Como saiu de uma pedreira
Os caminhos que percorreu
E agora ali inerte
O riacho corre incessantemente
Mas está sempre ali
Refresco os pés enquanto escuto
Por vezes parece-me distinguir
Pequenas palavras
Sorrio
Convenço-me que fala comigo
Como uma simples resposta
Que de tão pequena
Me preenche tanto
Coisas simples que me fazem sorrir
À vida

Jose Apolonia  09/08/11

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

EXPLOSÂO CÓSMICA


Como um cometa
Em aproximação fatal
A uma supernova
Em explosões tremendas
De cores
De matéria cósmica

A uma velocidade estonteante
Vivem
A  intensidade
Na exacta medida
Da velocidade
Com que se afastam

Jose Apolonia  09/08/2011

domingo, 7 de agosto de 2011

PURO, PURO O MEU SENTIR

PURO,  PURO O MEU SENTIR

Sentado numa cadeira
Os pés descalços
Num pequeno muro
O vento que sopra
Parece murmurar
Mas não estou atento
Na mesa um copo de gim
Vazio
Olho-o atentamente
Por breves instantes sinto-te
Ao meu lado
Pura ilusão que gosto
À minha frente o rio
Caldeado
Pontos de espuma
Que contigo aprendi
A chamar, denominar
Carneirinhos
Tenho saudade confesso
De um abraço um simples abraço
No mais puro dos silêncios
Ou apenas olharmo-nos
Nos olhos
Sem dizer palavra alguma
É duro
O caminho que nos propusemos
Subir e descer montanhas
Atravessar desertos
Vermo-nos, sem nos vermos
Abraçarmo-nos, sem nos abraçarmos
Sentirmo-nos, sem nos sentirmos
É curioso
O que se pode sentir
Sem nos termos
A nós

José Apolónia  07/08/11

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

COMO O RIO

COMO  O RIO

As portadas que em mim se fecham
No crepúsculo do dia
De um ciclo
Onde assim me permito
Algum silêncio, algum descanso
Em mim
E penso um refúgio
Da loucura que me rodeia
Onde me banho
E não reparo nas frechas
Que se iluminam ao raiar
O dia,
Os primeiros braços do sol
E me lembro, sentado
No meu canto sobre o rio
O nosso rio
As intermináveis marés
As enchentes
Logo seguidas pelas
Vazantes
E penso
Não sou mais que o Rio
Não sou menos que o Rio
Sou o Rio
Como ele
Estou
Como ele
Sou
O Rio
Nas suas intermináveis viagens
Onde nos é permitido
Algum silêncio, algum descanso
Naquela hora que medeia
O fluxo das marés

Jose Apolonia 05/08/11

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

PEDAÇOS DO EU

PEDAÇOS DO EU

Cada lágrima minha
É um pedaço de mim
Que se desprende
Que transporta em si
A tristeza a dor
A alegria o amor
Cada lágrima minha
Sulca-me as faces
A alma

Lágrima
Translúcida, cristalina
Salgada
Como o mais salgado
Dos mares
Doce
Como o mais doce
Mel

Cada lágrima minha
Tem vida é vida
Tem uma história
Uma semente
Um futuro
Cada lágrima minha
É indelével, sentida
Pura, transparente
É vida
Que não se quer contida
Sou EU

Jose Apolonia    01/08/11

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

PORQUÊ

PORQUÊ

Quem és tu
Que fazes por aqui
Há muito que por aqui
Não devias andar
Mas andas
Por aqui habitas
Em casa alheia
Mas porque me visitas
Porque me assaltas
Na oferta de noites claras
Em claro
Porque me tocas
Os sonhos
Que não me lembro
Porque acordo alagado
Inquieto…

Jose Apolonia  17/05/11

É FOGO O QUE EM MIM ARDE

Tenho fogo nas mãos
E penso-te
E tenho fogo nas mãos
E tremo
Só de te pensar
Ardo
 Em chama viva

Tremo só de te pensar
Tremula
Eu sei, sentes
Quando te penso
Tremes na fogueira
Que em mim floresce
Queimas-te
Num delírio que gostas
Que procuras
Que não dominas
E tremes
E gostas
E lutas até à exaustão
Na procura de mais
Eu sei
Conheço-te há demasiado
Recusas ou não
Mas a verdade é que te queimas
E gostas
Na fogueira que em mim floresce

E gosto do meu sentir
Gosto de arder no fogo
E tremo quando tremes
Quando gritas
Quando inflamas
O meu nome

José Apolónia  02 /08/11

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mastigo com calma

Mastigo com calma
O néctar aveludado 
Que escorre
De um cálice com formas
Que de tão puro
Tão cristalino
Pego com cuidados
Demasiados até
Permito que se entorne
Em mim
Que me inundem
Os seus aromas
Que se evapore
Para logo voltar
A se entornar
Esse néctar
Fruto dos frutos
Deusa dos deuses
Que me eleva
Transporta
Nessa forma
Cristalina
De cálice

José Apolónia 02/08/11

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tu Kianda dos mares

Tu Kianda dos mares

Kianda dos mares por onde andas
Que meus pobres olhos não contemplas
Histórias tuas me acompanham
Histórias nuas, cruas, algumas de rara beleza
Fazem parte do meu imaginário, de mim
Por vezes ao leme, no silêncio da noite
 Parece-me ouvir os teus cânticos
Envoltos na brisa que me acaricia
Por entre os sons do sulcar os mares
Uma vez acordei com o teu perfume
Mas tinhas partido
Contemplativo observei o horizonte
E pareceu-me, pareceu-me ver-te
Ao longe, na estrada de prata
Que a lua resplandecente marcava
Pareceu-me…

Tu Kianda dos mares
Tu que tens fama de rara beleza
De um encantamento tal, mortal
De uma voz de tão doce, fatal
Que esperas
Eu espero-te, numa noite de luar.

José Apolónia   01/08/11